segunda-feira, 2 de julho de 2012

A equidade na saúde global, em debate na Etiópia


Por David Soeiro*
Entre os dias 23 e 27 de abril de 2012, o continente africano recebeu mais de 3 mil participantes de aproximadamente 170 países para o 13º Congresso Mundial de Saúde Pública, realizado na capital da Etiópia, Adis Abeba. O congresso funcionou como fórum internacional para o intercâmbio de conhecimentos e experiências, buscando contribuir para a proteção e a promoção da saúde pública em nível global, além de discutir as ações que vêm sendo desenvolvidas na África.
Realizado pela segunda vez no continente, o evento foi promovido pela Associação de Saúde Pública da Etiópia e pela Federação Mundial de Associações de Saúde Pública (WFPHA), e teve como tema Rumo à equidade na saúde global: oportunidades e ameaças. Foram 40 artigos para as sessões especiais, 134 para apresentações orais, 550 pôsteres e mais 16 apresentações de painéis.
Os debates centraram-se nas disparidades relacionadas ao acesso universal à saúde e à carga de doenças crônicas, além de tratar do papel integrador da saúde pública no tratamento doenças crônicas evitáveis. Entre outros temas citados, destacaram-se questões como o uso de tabaco, a quantidade de comida e bebida consumida, o acesso equitativo aos alimentos e ao saneamento básico, habitação, e educação de qualidade. Foram apresentadas também experiências sobre aleitamento materno.
Discutiu-se ainda a urbanização não planejada como desafio à saúde pública — e em particular para o enfrentamento das desigualdades na saúde —, por aumentar os riscos e causar impacto na segurança dos cidadãos.
O sanitarista Paulo Buss, coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), ao relacionar o tema com a realidade brasileira, apresentou o Programa Bolsa Família, como ação para melhoria na distribuição da renda e redução de iniquidades, com notável importância na redução da mortalidade infantil, materna e aumento da expectativa de vida.
A Etiópia, localizada na região do Chifre da África, possui população estimada de 79,8 milhões de habitantes — a segunda maior da região subsaariana do continente —, dos quais 83,7% vivem em áreas rurais. A cobertura da atenção primária é de 89%, com 116 hospitais públicos, 14.192 postos de saúde e mais de quatro mil clínicas privadas. Apesar de ser um dos países que mais crescem na África, sua realidade ainda está marcada por iniquidades.
O país, no entanto, pode oferecer boas lições ao Brasil, como apontou a pesquisadora da UFRJ Lígia Bahia, vice-presidente da Abrasco. Ela acredita que o SUS tem muito a aprender com as práticas alternativas e comunitárias em saúde desenvolvidas na Etiópia para uma atenção mais integral.
Encontro estudantil
Estudantes da área de Saúde Pública também estiveram reunidos durante o congresso, em seu segundo encontro internacional. Foram apresentados resultados de pesquisas e discutida a construção de uma plataforma para a colaboração internacional e oportunidades de carreira. Os estudantes, ainda, elaboraram declaração sobre o tema do congresso e iniciaram discussão da proposta de criação da Federação Internacional dos Estudantes de Saúde Pública.
A participação do Brasil no evento se deu de várias formas, sendo notória a presença de autoridades brasileiras do campo da Saúde, profissionais, docentes e estudantes. O doutorando do Programa de Saúde Pública e Meio Ambiente da Ensp/Fiocruz Marco Aurélio Horta foi premiado entre os autores dos melhores trabalhos na modalidade pôster.
A Rádio Web Saúde, com o apoio da Rede Unida, realizou a cobertura do evento, disponibilizando em tempo real as informações para o Brasil.
Carta de Adis Abeba
Durante o congresso, realizou-se a 46ª Assembleia Geral da WFPHA, em que foram eleitos James Chauvin e Mengistu Asnake como presidente e vice-presidente da instituição. Na ocasião, foi aprovada a Carta de Adis Abeba (Íntegra no site do RADIS), na qual a associação apela a todos os governos que reconheçam e se responsabilizem pelos desafios na busca de equidade na saúde global. Isso inclui medidas como estabelecer parcerias; buscar metas globais e equitativas que visem à cobertura de saúde universal; aprimorar, fortalecer e reter a força de trabalho qualificada em saúde pública; combater a fraude e a corrupção; reconhecer deficiências físicas e mentais e prevenção de lesões como componentes essenciais de uma abordagem de saúde pública para a equidade e cumprir compromissos financeiros em relação aos Objetivos do Milênio. De acordo com o presidente da Abrasco, Luiz Augusto Facchini, a associação buscará estreitar a cooperação com a WFPHA, possibilitando a integração de pesquisas e atividades em nível global, como a realização do próximo congresso, em Calcutá, na Índia.
*Doutorando em Epidemiologia em Saúde Pública (Ensp/Fiocruz). Colaboraram ainda nesta matéria Jessyka Barbosa (CPqAM/Fiocruz); Franciele Moletta, Sayonara Avila e Maria Giovana Fortunato (UFRGS e Rádio Web).
Publicado na Revista Radis 119 (jul/12)